“Uma política industrial forte é o caminho para o desenvolvimento socioeconômico sustentável, pois não existe país grande sem avanços industriais”, afirma Alban.
Ricardo Alban tomou posse como presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI) no dia 31 de outubro, para um mandato de quatro anos. Em entrevista à Revista da Indústria Brasileira, o empresário fala sobre desafios do cargo, política industrial, reforma tributária, inovação e qualificação profissional, entre outros assuntos. Confira abaixo os principais temas abordados.
Novo mandato
Inicio meu mandato com muito entusiasmo, consciente do enorme trabalho que teremos pela frente. Este é um momento fundamental para a indústria brasileira e seremos incansáveis nas nossas entregas. O setor produtivo vem perdendo sua capacidade de competir nos mercados globais. A produtividade da indústria de transformação caiu em quase 1% ao ano desde 1995, quando cada hora trabalhada no Brasil gerava R$ 45 em produtos. Hoje, ela gera apenas R$ 36. São números alarmantes e precisamos de novas abordagens para reverter esse quadro. A CNI já tem conhecimento e propostas muito bem elaboradas; agora é reorientar o trabalho com foco total nos eixos da neoindustrialização.
Importância da política industrial
Uma política industrial forte é o caminho para o desenvolvimento socioeconômico sustentável, pois não existe país grande sem avanços industriais. A indústria liderou a transformação que levou os países asiáticos do século 21 a novos patamares de desenvolvimento socioeconômico. Não queremos só incentivos, apesar de eles também serem necessários para competirmos em igualdade, especialmente nas novas áreas. As empresas no mundo receberam US$ 40 bilhões a mais em subsídios no primeiro semestre de 2023. Governos de grandes potências, como Estados Unidos e China, investem bilhões de dólares para aproveitar oportunidades da revolução industrial verde. Muito mais do que incentivos, queremos condições para competir. Temos também governo e Congresso novos, com consciência das oportunidades e dispostos a serem parceiros indispensáveis da neoindustrialização, tendo o ministro do MDIC, Geraldo Alckmin, como maestro imprescindível na nova e desafiadora política industrial.
Economia de baixo carbono
Essa agenda é uma prioridade, pois sabemos que não existe economia sustentável sem uma indústria forte e sustentável e a indústria brasileira está preparada para essa transição. Devemos aproveitar todas as oportunidades oferecidas pela economia de baixo carbono, que requer mão de obra qualificada, investimento em novas tecnologias e fontes de energia limpa, como a eólica offshore. Vamos pegar todas as vantagens competitivas que temos aqui, como uma matriz energética predominantemente limpa, para liderar um movimento global de descarbonização, com potencial para sermos um grande hub de exportação de energia renovável, tendo o hidrogênio verde como uma das principais apostas.
Reforma tributária
A aprovação da reforma tributária pelo Senado é uma vitória para a sociedade e deixa o Brasil mais perto de ter um sistema moderno e eficiente, baseado em um IVA de boa qualidade, com reflexos positivos sobre investimento, crescimento econômico, geração de emprego e renda. Entretanto, entendemos que, no texto aprovado, há excesso de atividades com alíquota reduzida, o que poderá resultar em alíquotas mais altas para outros setores. Além disso, acreditamos na necessidade de corrigir pontos relacionados ao Imposto Seletivo para evitar cumulatividade.
Qualificação profissional
Em termos de qualificação, já temos na CNI e nas federações um know-how enorme com o Sistema S, e que pode ser expandido. Isso será feito, de forma a atender às enormes demandas que virão com a neoindustrialização. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, lembrou outro dia uma proposta que ele fez quando era ministro da Educação, de oferecer contraturnos de educação profissional aos alunos da rede pública. Estamos dispostos a pensar fora da caixa, até porque a caixa não nos serve mais.
Créditos público e privado
O crédito público nunca será capaz de atender a todas as necessidades da indústria, mas quero parabenizar o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) pelas ações de estímulo à industrialização. O crédito privado é muito maior e mais capilar, porém é preciso aprofundar o diálogo com o sistema financeiro para termos financiamentos a custos competitivos e que não sejam um obstáculo para a nossa atividade.
Participação de mulheres em postos de liderança
Precisamos criar condições para as mulheres ocuparem mais espaços nas lideranças empresariais e institucionais. Ainda que, na CNI, as mulheres representem 59% dos cargos de liderança, temos poucas mulheres presidentes de federações. Em maio de 2022, a CNI lançou o Fórum Nacional da Mulher Empresária, que terá todo o nosso apoio.
Acordo Mercosul-União Europeia
É importante concluir esse acordo, pois ele beneficiará a relação comercial entre os países envolvidos, com a redução de impostos de importação. Estima-se que cerca de 95% de todos os bens industriais do Brasil tenham o imposto de importação zerado em até 10 anos ao entrar no mercado europeu, sendo que mais da metade desses produtos, quase três mil bens industriais, terão o benefício assim que o acordo entrar em vigor.
Inovação e P&D
Queremos condições de competir. Vamos investir nas estruturas física e regulatória que nos permitam competir com o mundo. Isso inclui crédito a preço justo, educação de qualidade e estímulo à inovação, à pesquisa e ao desenvolvimento (P&D). Já há o compromisso de mais recursos para a Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii) e para centros tecnológicos. Na Federação das Indústrias do Estado da Bahia (FIEB), temos a experiência muito bem-sucedida do Centro Integrado de Manufatura e Tecnologia (Cimatec), que mostra como o sistema das federações pode ser efetivo nessa transformação. Também daremos atenção especial à criação de um ambiente de startups industriais, como o setor financeiro e o agronegócio já estão fazendo, com ótimos resultados.